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Notcias 4s37c

29
abr
2025
(MADEIRA E PRODUTOS)
Piso engenheirado resistente feito com madeira residual de reflorestamento

Em testes, piso teve desempenho compatvel ou superior aos convencionais, mostrando que pode ser alternativa para construo civil 2v40p

Um novo tipo de piso, feito de madeira residual de reflorestamento e engenheirado com de partculas orientadas (Oriented Strand Board em ingls, OSB) pode ajudar a reduzir o desperdcio. Aglomerado com resina base de leo de mamona e adio de micropartculas de xido de alumnio (Al₂O₃), o produto foi desenvolvido a partir do doutorado de Romulo Henrique Batista Martins, na Faculdade de Zootecnia e Engenharia de Alimentos (FZEA) da USP. Ele tambm investigou o material para entender o desempenho estrutural em comparao aos pisos engenheirados compensados comerciais. Ensaios mecnicos atestaram resultados similares ou at melhores nos pisos feitos com resduos de Pinus spp.

Pisos engenheirados so produzidos tradicionalmente com madeira macia, nobre, ou compensado, materiais de alto valor agregado que exige toras de grande dimetro. “No entanto, com o advento de materiais engenheirados de madeira, surgiram alternativas como os painis de madeira reconstituda. Esses painis so produzidos com resina e presso, utilizando menos madeira e oferecendo igual ou melhor rendimento que a madeira macia”, explica o pesquisador. Alm disso, a fabricao convencional gera um alto volume de resduos ao longo da cadeia produtiva, desde o desdobro da madeira at a etapa final de acabamento.

Com a adio de micropartculas de Al₂O₃, apenas a abraso teve resultados positivos de melhora do desempenho. Ainda, a resina base de leo de mamona no solucionou o problema mais comum aos painis de madeira reconstituda: a alta afinidade por gua. “A questo da umidade ainda um problema que persiste. Embora existam algumas alternativas em desenvolvimento, uma lacuna que ainda precisa ser preenchida”, explica Martins. Apesar disso, esses resultados negativos no afetam seus usos, j que “eles so mais utilizados em ambientes secos”, continua.

“Dar um novo destino ao que seria considerado lixo, um resduo inerente ao processamento industrial de madeira, em vez de queimar ou descartar, interessante para contribuir com o conceito de economia circular” – Romulo Martins

Pisos engenheirados e resistncia

Pisos engenheirados, em ingls Engineered Wood Flooring (EWF), so pisos compostos usualmente de trs camadas: a camada superficial (lamela), adesivo e uma camada de e. No piso desenvolvido por Martins, a camada de e foi feita utilizando OSB, um estruturado a partir de lascas (strands) de madeira prensadas e orientadas em camadas cruzadas. Em reviso sistemtica da literatura nas bases de dados Web of Science e Engineering Village, o pesquisador identificou 26 trabalhos sobre o uso de painis reconstitudos de madeira como alternativa ao uso de madeira macia em pisos engenheirados. Depois, em reviso bibliomtrica, uma anlise quantitativa mostrou lacunas nas pesquisas com madeira residual.

Para que o material pudesse ser mais competitivo em relao aos pisos convencionais, foram exploradas melhorias em sua composio para aprimorar sua resistncia umidade e ao desgaste mecnico. Testaram a resina base de leo de mamona e o xido de alumnio (Al₂O₃) para essas melhorias, respectivamente. Ensaios no laboratrio avaliaram a resistncia do novo piso engenheirado e do OSB sem ou com eles, separadamente, em diferentes porcentagens. No entanto, os resultados demonstraram que os efeitos dessas adies foram limitados.

O uso da resina base de leo de mamona no resultou em um ganho significativo na resistncia umidade, mantendo o problema de absoro hdrica caracterstico dos painis de madeira reconstituda. Testes de resistncia flexo e compresso mostraram que a presena das micropartculas de Al₂O₃ no alterou muito o desempenho estrutural do material, ou seja, no trouxe ganhos significativos s propriedades mecnicas do piso. Apenas a resistncia abraso apresentou uma melhora quando comparada aos painis sem tratamento, o que sugere um potencial benefcio na durabilidade superficial.

Tambm comparou-se o desempenho do piso desenvolvido com produto comercial constitudo de compensado de madeira Pinus spp., com ensaios testando a delaminao em gua fria, resistncia ao esforo rolante, abraso, dureza, resistncia ao cisalhamento e variao dimensional. “Alguns resultados at superam os resultados do piso comercial que produzido industrialmente com rigoroso controle. Foi um resultado surpreendente. Eu no esperava um comportamento to bom do ponto de vista mecnico”, afirma Martins.

Mercado e sustentabilidade

A produo em escala dos pisos desenvolvidos ainda precisa ser estudada para disponibilizao da tecnologia no mercado, mas o pesquisador diz que sero necessrias apenas algumas adaptaes. Quanto ao valor final, “apesar de no ter o estudo econmico, utilizar material de resduo tem o custo de produo muito baixo. Se compararmos com o MDF, que um material mais conhecido no Brasil, o nosso material tem uma qualidade melhor. Portanto, o valor de venda pode ser maior do que o do MDF”, especula.

Juliano Fiorelli, orientador da tese e professor do Departamento de Engenharia de Biossistemas da FZEA, destaca que, embora o projeto contribua para a economia circular ao reutilizar resduos madeireiros, seu impacto ambiental ainda no foi avaliado. “A sustentabilidade na construo civil no se resume apenas ao uso de resduos. O ciclo de vida do material, o consumo energtico no processo produtivo e a durabilidade do produto final so fatores quantificados nesta equao”, afirma Fiorelli. Essa avaliao ainda est em desenvolvimento, conforme o professor.

“Mas acreditamos que o produto possa ter um ganho ambiental, principalmente na captura de CO2, implementando uma classificao ao produto que ser disponibilizado no mercado”, destaca Fiorelli.

Ao ser questionado sobre as limitaes de uso no Brasil, devido ao tradicional uso de alvenaria, ele argumenta que o produto tem um grande potencial para atender tanto a demandas internas quanto externas. Pisos de madeira em regies que utilizam esses materiais nas construes civis, como na regio Sul, e outros produtos imobilirios, abrem espao mesmo no pas em que o uso da alvenaria um aspecto cultural. Alm desses usos internos, ele ressalta as demandas externas em pases europeus, EUA e Canad, nos quais predomina a marcenaria nas casas e em outras construes.

Texto: Jean Silva*

Mais informaes: [email protected], com Romulo Martins

*Estagirio com orientao de Tabita Said

**Estagiria com orientao de Moiss Dorado

Fonte: https://jornal.usp.br/

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